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Um pouco mais de “Evidências”, hit que conquistou até Bruno Mars

Não é fácil a vida de compositor. Como em toda profissão, a grande maioria trabalha muito, cria muito e ganha pouco. Mas em todos os segmentos musicais há autores que conseguem viver exclusivamente desta nobre arte, capaz de mexer com as emoções e o imaginário do público. Há quem diga que os criadores do megahit mundial “Despacito” (a brasileira Erika Ender e os porto-riquenhos Luis Fonsi e Daddy Yankee) fizeram fortuna com a música, que tem mais de 15 bilhões de plays nas plataformas, somados áudio e vídeo, além de gerar direitos autorais em vários outros segmentos de execução.

Por aqui, pra ficarmos no exemplo de “Despacito”, considerando uma única faixa, podemos dizer que “Evidências”, de José Augusto e Paulo Sergio Valle, é a que mais se aproxima da performance do fenômeno latino lançado em 2017. E isso ficou claro no último domingo, quando o americano Bruno Mars incluiu a bela canção no repertório do seu show no festival The Town, em São Paulo. Para o público presente e para quem estava vendo o show pela TV, foi uma surpresa, mas para quem trabalha na indústria fonográfica o gesto pode ser visto como reconhecimento do popstar à obra prima que esta música se tornou.

Como além de tocar muito no rádio, TV e nas plataformas, “Evidências” está no setlist de muitos artistas que fazem shows pelo país, é recordista nos barzinhos e  casas de karaokê e com frequência é usada em campanhas, ela representa percentual expressivo nos rendimentos dos autores — que, aliás, tem muitos outros sucessos. “Evidências” foi composta em 1989 e ficou famosa após ser gravada por Chitãozinho e Xororó no álbum “Cowboy do Asfalto”, em 1990, tornando-se a segunda música mais executada nas rádios do país naquele ano.

“Não posso dizer que a gente tenha pensado em algum intérprete ou alguma situação pessoal vivida por nós quando fizemos a música”, revelou em entrevista  Paulo Sérgio Valle, autor, com parceiros, de hits como “Essa Tal Liberdade” (SPC), “A Lua Que Eu Te Dei” (Ivete Sangalo), “Você Me Vira a Cabeça” (Alcione) e “Paixão Antiga” (Tim Maia). “Nossa intenção era contar uma história de amor bem-sucedida e com positividade, que terminasse com final feliz”, contou José augusto numa ocasião.

Em 1989, “Evidências” foi apresentada em uma reunião a executivos do mercado para saber do seu potencial para ser gravada por algum nome famoso. A maioria torceu o nariz dizendo que a letra “era complicada e não tinha chances de fazer sucesso”, de acordo com os autores. Mas naquele grupo, estava o produtor e hitmaker Michael Sullivan, autor de sucessos como “Leva” e “Me dê Motivo” (gravados por Tim Maia), “Whisky a Go-Go” (Roupa Nova) e “Deslizes” (Fagner), entre outros. Como ninguém se interessou em sugerir ‘Evidências” a nomes conhecidos, Sullivan — o único na reunião a ver potencial na faixa — pediu para incluí-la no álbum que seu irmão Leonardo Sullivan lançaria meses depois. Mas a gravadora do artista não acreditou no potencial da música e ela não chegou a ser trabalhada.

Como além de gravar suas próprias composições, José Augusto compunha para outros artistas, ele não teve dúvida: gravou uma fita cassete com algumas músicas novas (entre elas “Evidências”) e encaminhou para diversos artistas, incluindo Chitãozinho e Xororó. Naquela época, a dupla estava selecionando repertório para o álbum “Cowboy do Asfalto”. O então empresário de CHeX, José Homero, e o produtor musical Paulo Debétio gostaram do que ouviram e incentivaram os irmãos a avaliar com carinho a faixa de José Augusto e Paulo Sergio Valle. Chitão e Xororó aprovaram a sugestão e resto é história. Se até então, os irmãos eram lembrados pelos megahits “Galopeira” e “Fio de Cabelo”, a partir dali essas músicas foram, digamos, ofuscadas pelo brilho do hoje clássico “Evidências”.

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