Vírus que causou o pior quadro de influenza nos EUA desde a epidemia de gripe suína mobiliza Saúde em Minas Gerais. Vacina é a melhor proteção
A chuva inesperada da tarde de ontem em Belo Horizonte chega para derrubar as temperaturas e acender um alerta antes mesmo do inverno: o tempo frio é um dos fatores que aumentam o número de casos de gripe, e neste ano há uma razão a mais para se preocupar com isso. O motivo atende pela sigla H3N2, subtipo do vírus Influenza A que circula em Minas Gerais desde 2012, mas vem infectando cada vez mais pessoas ao longo dos anos, superando até mesmo em alguns períodos o H1N1 – que alarmou o mundo ao causar a pandemia de gripe suína entre 2009 e 2010. Em 2018, o H3N2, já mostra sua força: do total de pacientes que tiveram Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) por influenza em Minas, 62,2% foram contaminadas por essa variação, sendo que pelo menos uma pessoa morreu. O quadro pode ser mais sério, já que também foram confirmados casos por Influenza A não subtipado (12 diagnósticos, nos quais não foi possível determinar qual o agente específico da doença), com outra morte. Já o H1N1 infectou cinco pessoas. A Secretaria de Estado de Saúde ressalta que todos os vírus da gripe são perigosos e podem provocar óbitos. Por isso, a vacinação é importante.
Cada dose protege dos três principais tipos do vírus que mais circulam no estado e no país: H1N1, H3N2 e Influenza B. A vacina está disponível, gratuitamente, para o público-alvo nas unidades do Sistema Único de Saúde (SUS). O imunizante também podem ser encontrado em laboratórios particulares. As clínicas disponibilizam os dois tipos de formulação: trivalente ou tetravalente. A primeira é vendido ao preço mínimo de R$ 80 à vista e máximo de R$ 85. Já o tipo mais abrangente é comercializado entre R$ 90 e R$ 125.
O alerta das autoridades de saúde sobre o H3N2 foi ligado já no fim do ano passado, quando o vírus infectou gravemente pelo menos 47 mil pessoas nos Estados Unidos e provocou o pior quadro de gripe desde 2009 – ano da pandemia de H1N1. O H3N2, no entanto, não é novo. Em Minas Gerais ele começou a circular em 2012, quando infectou 21 pessoas. No ano seguinte, mostrou quanto é perigoso: o número de infectados mais que dobrou, chegando a 50. Nove não resistiram aos sintomas.
Em 2014 o número de infecções seguiu em escalada, assim como a letalidade do vírus, chegando a 85 casos, com 14 mortes. O pior ano da fase histórica foi em 2017, quando o H3N2 provocou quadro de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) em 213 pacientes em Minas, dos quais 33 morreram. Nos últimos seis anos, em algumas temporadas o vírus foi mais letal e perigoso do que o H1N1, que foi detectado em abril de 2009 no México e se disseminou rapidamente, provocando epidemia mundial do que na época foi chamado de gripe suína.
Naquela temporada, no Brasil, como em outros países, o H1N1 atingiu milhares de pessoas. Minas Gerais registrou 932 infectados e 168 mortes. Em 2013 foram 457 casos e 117 óbitos. Já em 2016, 623 pessoas tiveram SRAG devido ao H1N1 e 194 morreram. O último balanço epidemiológico divulgado pela Secretaria de Estado da Saúde mostra que os dois vírus continuam circulando por Minas. Neste ano foram 53 casos graves provocados pelo Influenza, com 33 pacientes infectados pelo subtipo A(H3N2), cinco pelo H1N1, 12 por Influenza A sem subtipo definido e três por Influenza B.
Das duas mortes registradas este ano por Influenza em Minas, a vítima da variante H3N2 morava em Paraguaçu, no Sul do estado, e a outra em Uberlândia, no Triângulo Mineiro. Em Minas Gerais, 26 cidades apresentaram casos confirmados da Síndrome Respiratória Aguda Grave causados por influenza neste ano. Belo Horizonte e Mariana, na Região Central, são os municípios com mais infectados. Na capital mineira, 14 pacientes desenvolveram casos graves de H3N2, um de H1N1 e dois foram infectados por Influenza A não subtipado. Mariana teve três casos de H3N2 e um de H1N1.
A diretora de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Estado de Saúde, Janaína Fonseca Almeida, ressalta que o vírus Influenza é sazonal, por isso não dá para prever qual o subtipo estará mais ativo a cada temporada. “O Influenza é imprevisível. A definição de como será a sazonalidade só é possível no ano vigente. Por esse motivo, há oscilação de casos e de circulação de vírus ao longo dos anos. O que nos faz aproximar de uma previsão antecipada é o comportamento do vírus no Hemisfério Norte, durante o inverno (meses de janeiro a abril)”, explicou.
Segundo ela, ambos os subtipos, H1N1 e H3N2, são perigosos, assim como as demais variações. “Podem causar casos e óbitos da mesma forma. O que se observa é que o H3N2 atinge mais extremos de idade (crianças e idosos), enquanto o H1N1 pode causar doença grave também em adultos jovens”, disse a especialista.
Prevenção
Devido às mutações dos vírus, a vacina tem que ser atualizada a cada temporada. “Os vírus podem se modificar de um ano para outro, havendo necessidade de atualizar a imunização. Por esse motivo, é fundamental que principalmente o público prioritário (pessoas a partir de 60 anos; crianças entre 6 meses e 5 anos; trabalhadores de saúde; professores; povos indígenas; gestantes; mulheres até 45 dias depois do parto; pessoas privadas de liberdade e funcionários do sistema prisional) tome a dose. “Reforçamos que o Influenza é um vírus de circulação sazonal e, em 2018, a vacina disponibilizada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) é trivalente, protegendo contra três variações: o H3N2, o H1N1 e o B”, informa a Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Estado da Saúde.
É mentira
Ao contrário do que dizem mensagens que circulam em redes sociais e aplicativos de mensagem para celular, não existe uma cepa “H2N3” de vírus Influenza no Brasil. O Ministério da Saúde informa que se trata de informação falsa. Os vírus que atualmente circulam no país são o Influenza A (H1N1), A (H3N2) e Influenza B. A vacina contra gripe, disponível na saúde pública para o público-alvo e em clínicas particulares para os demais, protege contra as três variações do micro-organismo.