Prejuízo diário para indústria chega a R$ 350 milhões, diz estudo da Fiemg
Setores da indústria mineira já mostram muita preocupação com os efeitos causados pela greve dos caminhoneiros no mercado. Na avaliação do presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Flávio Roscoe, os resultados da crise são desastrosos não só pela queda no faturamento das empresas, mas também por conta da possível fuga de investimento.
Em conversa com O TEMPO, Roscoe, que assumiu o comando da entidade na última segunda-feira, mostrou-se preocupado com os efeitos futuros da crise em Minas e no país. “Do ponto de vista econômico, foi uma catástrofe, e não é só o impacto de primeiro momento, tem também a apreensão que cria no empresário. O investidor não vai colocar dinheiro em um cenário com pouquíssimas certezas. Perdemos um potencial de crescimento enorme”, pontuou.
De acordo com um estudo realizado pela Fiemg, tomando por base o Produto Interno Bruto (PIB) de Minas Gerais estimado para o segundo trimestre de 2018, há um prejuízo de R$ 6,65 bilhões para a economia mineira como um todo e R$ 1,35 bilhão na indústria.
“Considerando a continuidade da greve nesta semana, o prejuízo diário para a economia mineira atinge o montante de R$ 1,73 bilhão por dia e, na indústria, R$ 350 milhões por dia. Em termos percentuais, o prejuízo estimado tem um impacto sobre a economia mineira próxima de 1% do PIB”, mostra trecho do estudo.
Segundo Roscoe, a conversa com o empresariado durante a semana de crise foi assustadora. “A situação é de desespero. Um empresário que tem centenas de empregados e não sabe dizer como vai pagar os salários. O que ele tem para receber ninguém paga, o banco não dá crédito e não fatura um real. Como vai fazer?”, questionou. O presidente da Fiemg também disse acreditar que diversas empresas não vão conseguir se recuperar e que haverá um alto número de demissões por conta da crise.
Na avaliação dele, deve demorar para que a indústria retorne à normalidade, mesmo após o fim da greve. “Do momento que terminar, as indústrias que têm cadeias mais fáceis normalizariam com três dias. As cadeias mais complexas, com processos mais complicados, em 15 dias”.
Com a crise no abastecimento, grande parte dos setores industriais passou a operar no chamado “regime just in time”, em que os estoques de matérias-primas são planejados para suprir a produção por dois a três dias.
Oportunidade. Apesar da preocupação, Flávio Roscoe também aponta que o país pode tirar uma lição positiva. “Isso tudo pode ser usado pra melhorarmos. Pode ter um viés positivo. Temos que aprender a lição e corrigir o que devemos corrigir. Temos que repensar a estabilidade do servidor público e o tamanho do Estado. O Estado é enorme, não se sustenta e não é eficiente. Se a crise servir para refletirmos sobre isso, o custo terá valido a pena”, afirma.
Arrecadação. Técnicos da Secretaria de Estado de Fazenda de Minas Gerais demonstram preocupação quanto a uma queda brusca na arrecadação do Estado por conta da crise.
Redução. A estimativa de perda no recolhimento de ICMS é de cerca de R$ 491,6 milhões na economia, dos quais R$ 302,8 milhões são do setor industrial.
Setor alimentício sofre mais
De acordo com um estudo feito pela empresa Agroconsult, há setores industriais em que a situação é grave. Entre aqueles que apresentam situação mais preocupante estão setores nas cadeias de carne e alimentação, como aves, suínos, bovinos e leite.
Além da morte dos animais presos nos bloqueios feitos pelos caminhoneiros, como apontou o presidente Michel Temer (MDB) em coletiva na semana passada, as relações de troca de aves e suínos – que já estavam desfavoráveis aos produtores devido à quebra da produção de milho safrinha e da safra na Argentina – tornam-se, neste momento, um mero indicador ruim.
O grande problema, segundo o estudo, está na paralisação de mais de 167 plantas de abate e de processamento de carnes, cuja produção não pode ser escoada.
Na avaliação da consultoria, a recuperação do ciclo de produção pode demorar quase seis meses para os suínos e quase dois meses para as aves.
Na bovinocultura, o “início do inverno e o enfraquecimento das pastagens farão com que os bois gordos, prontos para abate, percam peso”.
Quando a operação dos frigoríficos voltar ao normal, o produtor estará fragilizado para negociar. No leite, a captação está paralisada nas mais importantes bacias produtoras.