Enquanto isso, o vice, Antônio Andrade, quer candidatura própria, mas também enfrenta muitas resistências
Vindos de um divórcio pouco convencional, em que continuaram “morando” na mesma casa, o governador Fernando Pimentel (PT) e seu vice, Antônio Andrade (MDB), travam uma disputa particular pela mesma “noiva” para as eleições de outubro. Enquanto o titular do Palácio tenta manter os emedebistas no projeto de sua reeleição ao governo de Minas, o vice trabalha para que a legenda que preside não só tenha candidato próprio, mas com um nome alinhado com o principal partido de oposição ao petista, o PSDB.
Em meio a isso, um MDB dividido tem suas próprias batalhas internas para decidir que rumo tomar. O destino começa a ser definido amanhã com reunião para confirmar a realização de prévias em que o partido votará se vai ter candidatura própria ao governo ou não. Esse encontro do diretório estadual foi mantido mesmo depois de a Executiva deliberar pelo adiamento para maio da data da escolha prévia do possível candidato. A reunião, que na prática era uma manobra para tentar boicotar eventual candidatura do deputado federal Rodrigo Pacheco, apoiado pelo presidente do partido, Antônio Andrade, foi ignorada pelo dirigente, que disse não ver legitimidade no grupo.
O racha no MDB, partido marcado por divisões internas, é entre o grupo de Andrade, que concentra os que trabalham pela candidatura de oposição e estão mais próximos dos tucanos, e o do presidente da Assembleia, Adalclever Lopes, cotado para ser vice-governador na chapa de Pimentel caso os partidos se juntem de novo.
Em meio a essa queda de braço, os deputados estaduais colocaram o nome de Adalclever para disputar as prévias com Pacheco, caso a legenda realmente decida por candidatura própria. O deputado federal Leonardo Quintão, aliado da bancada estadual, também colocou o nome à disposição. Com a proximidade da reunião para confirmar a realização de prévias, porém, os deputados estaduais começaram a inflar o nome do empresário Josué Alencar, filho do ex-vice-presidente José Alencar, tudo na tentativa de anular Rodrigo Pacheco.
Apoiado por Andrade, Rodrigo Pacheco vem fazendo reuniões com o grupo do senador Aécio Neves e já confirmou que pode mudar de partido para disputar o governo de Minas. Ele posou em foto ao lado do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de quem confirmou ter recebido convite para ir para o DEM. A estratégia da bancada estadual de adiar as prévias para março é para que, se Pacheco não tiver garantiras, ele deixe o partido em meio à janela partidária para filiações para o pleito.
O coordenador do grupo eleitoral do PT em Minas Gerais, deputado federal Reginaldo Lopes, disse que o PT trabalha para consolidar a aliança com o MDB, incluindo o vice-governador na aliança. O petista disse acreditar que a tese majoritária no partido aliado seja para se manter junto de Pimentel na disputa eleitoral. “O espaço que cada um vai ocupar não sei, mas a ideia é ter todo o MDB conosco”, disse.
UM VICE MAGOADO Andrade, que reclamou há duas semanas não ter sido comunicado pelo governo de que perderia sua sala no Palácio Tiradentes, não fala com Pimentel há mais de um ano e diz não integrar a gestão petista, apesar de vice. “Trabalhamos em função da candidatura própria porque achamos que é o momento de dar uma resposta ao governo, que não vai bem de forma alguma, não está pagando salário, está se apoderando de recursos dos prefeitos. Acreditamos que temos condições de dar uma resposta para atender aos anseios dos mineiros”, disse.
O vice-governador diz que “coincidentemente”, quando estava no governo, até meados de 2016, a situação era melhor. “Depois disso, saí do governo, continuo no cargo, mas não tenho influência nenhuma nas ações porque não me dão oportunidade. Demitiram meu pessoal”, afirmou. Andrade diz que a candidatura própria é defendida pelas bases do partido e, por isso, acredita que a tese será vencedora, mas afirmou que fica no MDB mesmo se a legenda optar por manter a aliança com Pimentel.
Andrade é criticado dentro do próprio partido pelo seu rompimento com Pimentel. Segundo um deputado, a perda da influência no governo, que além de cortar os cargos dele tirou o avião institucional de sua mira, foi merecida. “Desde os primeiros dias de mandato, ele estava se preparando para sentar na cadeira do Pimentel. O Andrade traiu a coligação e quer que a gente o acompanhe”, afirmou. O ápice da crise, segundo o emedebista da ala alinhada ao PT, foi o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). O vice chegou a dizer publicamente que estava pronto para assumir, quando havia dúvidas se a denúncia contra Pimentel na Operação Acrônimo o obrigaria a sair do cargo. “Hoje o vice tem um papel protocolar. Tem a caneta, mas sem tinta”, disse o parlamentar.
Um dos deputados da ala ligada a Pimentel, Sávio Souza Cruz, que retornou à Assembleia depois de ocupar duas secretarias no governo, diz que o MDB pode ter candidatura própria, mas desde que permaneça no campo político do PT. “A gente tem de estar no nosso campo contra o Aécio, não podemos ser usados para ser entregues aos adversários. Os partidos que compõem com esse campo no momento certo avaliarão qual é o melhor desenho, se é o PT na cabeça ou o MDB ou o PRB ou o PCdoB, mas os partidos que estão do lado de cá”, disse.